Notícia no Valor Econômico: Big Data cria demanda por executivos especializados
Querer enxergar tudo ao mesmo tempo, porém, pode ter o mesmo efeito que não ver nada. Nesse contexto, a chave do sucesso é identificar e visualizar o que de fato importa. É no manejo dessas táticas de observação, não só de clientes mas também de concorrentes, riscos e demais fatores que podem determinar o futuro de uma companhia, que opera o cientista de big data, ou, em um nível mais elevado, o CDO - Chief Data Officer.
Veículo: Valor Econômico online
Data: quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Roberto Carneiro, da Sodexo, diz que sua responsabilidade é aliar a análise de dados com a estratégia do negócio e, assim, gerar valor para a empresa
As empresas sempre estiveram de olho no consumidor e, devido aos novos recursos tecnológicos, os ângulos dessa visão se multiplicaram. Querer enxergar tudo ao mesmo tempo, porém, pode ter o mesmo efeito que não ver nada. Nesse contexto, a chave do sucesso é identificar e visualizar o que de fato importa. É no manejo dessas táticas de observação, não só de clientes mas também de concorrentes, riscos e demais fatores que podem determinar o futuro de uma companhia, que opera o cientista de big data, ou, em um nível mais elevado, o CDO - Chief Data Officer.
Suas competências vão muito além das daquele profissional que sabe lidar com ferramentas de extração de dados. "É alguém que se preocupa mais com a lógica do que com a programação", afirma Marcos Pichatelli, gerente de produtos do SAS, grupo especializado em 'business intelligence'. Segundo ele, são três os aspectos fundamentais na constituição desse perfil. "É preciso conhecer técnicas matemáticas, o negócio da empresa - para que aplique corretamente isso em problemas ou oportunidades - e ter uma postura proativa, como a de um pesquisador."
Esse cientista que interpreta informações provenientes de fontes diversas - do fluxo nos pontos de venda aos comentários nas redes sociais - e relevantes para a corporação dificilmente é encontrado pronto no mercado. "É um campo novo tanto no exterior como no Brasil. Não existem cursos específicos, mas sim conjuntos de disciplinas que podem ser úteis para profissionais com interesse na área", afirma Marcelo Coutinho, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A saída para suprir essa demanda, portanto, é contratar quem tenha as competências básicas da formação mais técnica em áreas como matemática ou engenharia operacional e complementá-las com treinamento no setor em que vai atuar. "O ponto de partida pode ser também um profissional de marketing ou de negócios com um conhecimento profundo da indústria", afirma Giampaolo Michelucci, vice-presidente de vendas da EMC do Brasil, que presta consultoria em TI. Nesse caso, o reforço será em conhecimentos de estatística, necessários para saber se um conjunto de dados é significativo para a elaboração de determinada hipótese, destaca Fernando Simões, diretor de consultoria e serviços de tecnologia para a América Latina da Atos, multinacional francesa especializada em big data.
De acordo com Simões, é muito difícil achar quem reúna todas essas exigências e ou formar esse profissional no curto espaço de tempo que as empresas necessitam. Mesmo a qualificação prática precisa de um período de maturação ainda não possibilitado pela própria novidade do conceito, diz Michelucci. Sendo assim, a Atos aposta no "poder das equipes", diz seu diretor-executivo. "Procuramos desmembrar o perfil e colocar em um mesmo time alguém com a perspectiva do negócio do cliente e pessoas técnicas com visão mais generalista, para aproveitar os dados existentes e sugerir mudanças para torná-los mais úteis. Já outras precisam conhecer a fundo as tecnologias e implementá-las", ressalta.
Uma das características da função do cientista de big data é justamente o seu trânsito entre áreas diferentes dentro das companhias. Segundo Henrique Gasperoni, diretor do Instituto Brasileiro de Inteligência de Mercado (Ibramerc), ela está entre marketing e TI. Estruturar bem os dados, diz, é vital para extrair deles informações. "É como um guarda-roupa. Camisas, calças, meias, tudo tem de estar separado para que se saiba onde está cada coisa". E não adianta deixar ali peças que não serão usadas, pois elas apenas ocuparão espaço e desperdiçarão recursos. O desafio, quando se fala em big data, passa exatamente pelo crescimento desse guarda-roupa. "A inteligência matemática para a análise de dados existe desde a década de 1970. O que há de novidade é o big, a questão do volume, a rapidez com que a informação é gerada", afirma Pichatelli, do SAS.
A carreira de Roberto Newton Carneiro, de 50 anos, acompanha essa linha evolutiva desde a década de 1990. Ele conta que começou com uma atribuição mais pura de TI, a administração de banco de dados. Em 1997, assumiu o cargo de gerente de dados, o que hoje equivaleria a um CDO, no grupo Shell. Depois, passou a CIO (Chief Information Officer), ou diretor de TI. Sua formação combina conhecimentos em negócios - cursou um MBA executivo na Fundação Dom Cabral (RJ) - com a graduação em sistemas de informação pela PUC-Rio.
Desde 2011 na Sodexo, onde é diretor de TI e processos de negócio, Carneiro diz que suas responsabilidades incluem tanto a parte clássica de tratamento dos dados como o uso de tecnologia, informações e processos para gerar valor para a companhia, conciliando os papéis de CIO e de CDO - cargo que não existe formalmente na empresa. Na posição que ocupa, diz, é necessário ser um catalisador da cultura da informação.
No momento, a Sodexo desenvolve um sistema de gestão de informações em "supply chain", que envolve a otimização de processos de compra e a análise da performance de centros de distribuição. Para o início de 2015, há o objetivo de já colher os primeiros resultados de um projeto de CRM, ferramenta global de gestão de relacionamento com clientes que "será a base de captação de informações estruturadas" - aquelas oriundas, por exemplo, do preenchimento de formulários -, a serem cruzadas com as não estruturadas, como as originadas em comentários nas redes sociais.
O executivo chama a atenção para a importância da constituição de equipes bem equilibradas. "Há uma camada de infraestrutura, de armazenamento de informações, que historicamente corresponde ao administrador de bancos de dados. Outra, intermediária, cuida da modelagem, da estruturação das informações para que elas possam ser acessadas. Por fim, existe a área de análise dessas informações. Tenho de orquestrar essa estrutura em todos os seus níveis, com as pessoas certas nos lugares certos, alinhadas com os objetivos da empresa", explica.
Para o executivo, a falta de bons cientistas de big data se deve à a dificuldade de alinhar conhecimentos específicos de informação à utilidade deles para o negócio. Essa carência de oferta leva à disputa pelos melhores profissionais, que se beneficiam de salários em alta. Segundo Gasperoni, do Ibramerc, quem tem de 2 a 3 anos de experiência ganha entre R$ 3.500 e R$ 5 mil mensais. A partir do momento em que se torna coordenador ou gerente de uma área de inteligência de mercado, sua remuneração salta para um patamar de R$ 8 mil a R$ 15 mil por mês, dependendo do porte da empresa.
Os valores pagos para CDOs atingem cifras maiores. Recentemente a Experis, braço da consultoria Manpower Group que seleciona profissionais para TI, conduziu um processo de seleção em que o salário fechado foi de R$ 27 mil, informa Daniel Garbuglio, diretor da empresa. "No caso, trata-se de um perfil mais sênior, com experiência de 15 a 20 anos. É uma posição que tem ganhado importância e que se reporta diretamente ao presidente da corporação."
As vagas de emprego para os experts em big data são encontradas em diversos setores. "Alguns, como o bancário, necessitam mais desses profissionais do que outros", afirma Frank Meylan, sócio e líder da área de "management consulting" da KPMG. "Grandes bancos de varejo são dependentes de tecnologia da informação para 'mobile banking' e no combate a fraudes, por exemplo. As empresas de seguro-saúde, por sua vez, a usam para impedir práticas fraudulentas no reembolso de exames."
Estudo realizado pelo Ibramerc em julho do ano passado com 326 corporações no Brasil mostrou que, em 2014, a adesão às técnicas de big data deverá crescer 65% nos departamentos de marketing das empresas. Nos de TI, a alta prevista é de 16%. O grupo Gartner, especializado em pesquisas em TI, estima que até 2015 serão criados globalmente 4,4 milhões de empregos nessa área por conta do big data.
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